domingo, 3 de janeiro de 2010

Motivo eu já nem sei.

Frio, cobertor, letras. Uma música ouvida antes do sono ainda presente no inconsciente. Vento sorrateiro mexendo de leve nos cabelos, que se movimentam quase imperceptivelmente. Crio coragem e pego o violão. O que ressoava na minha mente agora enche o quarto de sons melodicamente perfeitos para o momento. A voz do cantor transforma-se na minha, ainda fraca devido ao sono. O som da chuva mistura-se ao dos acordes e da voz. O cheiro da água batendo em telhados, em terra e em gente mistura-se ao cheiro de páginas novas do livro que descansa na mesinha de cabeceira e ao meu próprio cheiro, presente no cobertor que me abrigou durante mais uma noite fria de sábado. A janela, tão próxima da cama, permite a passagem de algumas gotículas, que, saindo das nuvens, vêm sutilmente molhar alguns fios de cabelo, a extremidade do braço do violão, a capa do livro, a ponta de meus dedos. Os minutos escorrem como se evaporassem no ar, cada instante do passado se desfaz involuntariamente enquanto um novo se apresenta de maneira fugaz, quase num pedido de desculpas por tamanha intransigência de aparecer sem ser chamado. A música acaba. Os braços descansam em cima do violão, num quase abraço que implora por um pouco de calor. O olhar concentra-se nas nuvens, que insistem em esconder o céu, e os pensamentos perdem-se na chuva, que, aos poucos, começa a passar.

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