domingo, 24 de outubro de 2010

Oh my dreams...


Certas músicas te acompanham durante a vida inteira. Quando você escuta uma banda desde que era apenas uma criança, às vezes parece que as canções deixam de pertencer a quem escreveu e passam a ser suas. Animal Instinct é e sempre vai ser a minha música preferida, de todas as bandas, de todas as épocas. Linger foi a primeira música que eu toquei/cantei no meu primeiro ensaio em uma banda. Ode To My Family foi minha companhia em inúmeras madrugadas insones e solitárias. Empty esteve comigo nas viagens, enquanto olhava a paisagem pela janela e pensava na vida. You and Me foi a primeira música que escutei logo depois de ter tido a notícia de que passei no vestibular. Zombie sempre tocou em um volume ensurdecedor entre as 4 paredes do meu quarto. Já cantei Salvation e Ridiculous Thoughts no ápice da adolescência, gritando a plenos pulmões. Já sorri muito com Just My Imagination. Já dividi abraços ouvindo Free To Decide. Já derramei inúmeras lágrimas ouvindo Dreams.


E aí, quando você se dá conta, está no meio de uma multidão ouvindo e cantando junto todas aquelas músicas que marcaram partes importantíssimas da sua vida. Ao Vivo. Ali, pertinho, ao alcance das mãos. Passa um filme na sua cabeça. As lágrimas e o esforço de quem canta no volume mais alto que a própria garganta permite parecem não ser suficientes. Não, a ficha não cai. Eu estava mesmo lá, embora custe a acreditar nisso. Como se não bastasse, consegui pegar o setlist daquela que emprestou sua voz a boa parte dos acontecimentos que eu já vivi. Plumas enroladas no pedestal do microfone, balões vermelhos, setlist, pulseirinhas verdes, fotos, vídeos. A aparente banalidade de todos esses objetos e mídias é cheia de significado e vai servir pra relembrar uma daquelas noites que marcam a existência de alguém.






segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Novos ares:



(uma observação: não pretendo abandonar este espaço.
apenas pensei em outra maneira de me expressar,
criando personagens e situações das quais
as palavras fluem de modo mais verdadeiro.)

sábado, 4 de setembro de 2010

Agora, silêncio.

“Você pensa que ficando trancada em casa com uns instrumentos
vai conseguir ser uma grande artista?”


...e, assim, você se pergunta o que está fazendo. O porquê de estar fazendo. Se muitas pessoas que não te conhecem, que não sabem das suas intenções, estão ali dividindo os mesmos sons no mesmo ambiente, será que vale mesmo a pena? Li em algum lugar que “desistir, ainda que não pareça, foi meu grande ato de coragem.” Desistência dos amores (ir)realizáveis, das opções passíveis de falhas, das amizades que se mostraram frágeis, das gentilezas não correspondidas, das idealizações. Das realizações. Você vive. Ponto. Café, ônibus, faculdade, livros, mp4, ônibus, computador, livros, cama. O dia passa sem que você perceba, não dá tempo de pensar. Quando vê, já acabou. Sorriso no rosto, aparência bem cuidada, alguns amigos que tornam a rotina menos cansativa. Uma ligação ocasional. Uma pequena fuga à rotina. Quem sabe até a promessa de um amor. Só a promessa, porque as realizações obviamente fogem. Alguns atritos, já que sem eles a vida não teria graça. Problemas. Adrenalina. Palavrões. Dores de cabeça. Não dá pra gostar de todo mundo. Não dá pra agradar todo mundo. É impossível conviver bem com alguém que representa algo desagradável pra você. E os mesmos amigos ali, próximos, impondo uma barreira entre você e o que te incomoda, sempre com abraços e palavras certas no gatilho. Aí você pensa se vale a pena. Acaba chegando à conclusão de que nem sempre vale. As quatro paredes do meu quarto que me trancam são as mesmas que me libertam. Se a desistência é provisória? Hm, talvez. Sobre a pergunta do início do texto, bom, sempre tive uma resposta pronta. É engraçado, sabe... Sinceramente, eu nunca quis ser uma grande artista. Nunca mesmo. Isso sequer passou pela minha cabeça.



quinta-feira, 22 de julho de 2010




Ela é tão sozinha.



segunda-feira, 19 de julho de 2010

O destino desfolhou?

Dores de cabeça. É o futuro que deveria funcionar (mas não funciona), as perspectivas de uma realidade ilusória que só sobrevive nos sonhos. A dança dos erros. Dificuldades, incompreensões. Estou aqui, sabe, bem aqui, mas não sou notada. Passo despercebida. As coisas são assim, sempre foram assim. Do meu esforço para abrir uma rachadura na barragem que aprisiona um rio caudaloso, consigo um resultado. Pequeno, é verdade, mas consigo. Ao menos estou segura, não há ninguém que possa me ver assim. Eis... Fecho os olhos e, então, vejo: uma lágrima. A música ajudou. A música sempre ajuda.

sábado, 17 de julho de 2010

O exército de uma mulher só lutando por amor às causas perdidas...

Depois da divagação atemporal de uma janela de ônibus, aqui estou eu, escrevendo por não conseguir pensar em nada mais agradável e mais aliviador pra fazer, num quarto lilás e fechado, onde a voz de Gessinger sussurra algumas frases que eu mesma tenho vontade de dizer. A bateria do mp4 morreu, a música parou no meio do caminho de volta enquanto a cidade cheia de pressa e de fuligem passava por mim, deixando mais evidentes: a) meu cansaço, b) meus cabelos molhados e c) meus olhos cuja vermelhidão alterava o aspecto castanho discutível. Cheguei em casa como quem anda não com pernas, mas com ideias. Como quem voa com elas e para elas. A divagação na “devagar ação” do engarrafamento (e, aqui, como prometido, dou os créditos ao Hilário por ter dito essa expressão numa rara conversa de msn que transcendeu a meia-noite: bem que eu queria pensar nessas frases legais) dá margem a inúmeras resoluções, dá vida a todas aquelas efemeridades profundíssimas que eu nunca tenho coragem suficiente pra externar. E é exatamente por causa dessa covardia que a vida passa por mim sem perceber. Silêncio. Não compensa entrar na dança depois que a música parou. Essa conclusão me veio lenta, num quebra-cabeça cujas peças estavam espalhadas por lugares, por pessoas, por situações que eu nunca imaginaria. Parei de dançar, não entro mais na dança, entende? É que tem hora que o cansaço engole tudo. Os passos que nunca são capazes de sincronizar-se, as cinzas de algo que morreu antes mesmo de nascer, os beijos sem paixão, as frases feitas que parecem vir de qualquer lugar menos do único aceitável: o coração. O âmago. Tudo isso cansa e ultimamente eu tenho estado principalmente cansada de ficar cansada. Sabe aquilo que vai te tirar o fôlego e vai fazer revoluções estrondosas nos teus pensamentos sem que isso seja perceptível pra qualquer pessoa além de ti? Então. É por isso que continuo esperando, mesmo que eu disfarce essa espera com mil afazeres e com um número considerável de adoráveis amigos e com livros e com música e com... (inclua qualquer coisa que vier à sua mente aqui, eu topo). Muito prazer, meu nome é otário. A verdade é que a gente nunca tá satisfeito. Sério, o que mais eu pediria pra satisfazer minhas necessidades vitais e sociais e culturais? Sim, é claro, eu tenho os meus momentos, minhas pequenas epifanias, minhas felicidades efêmeras. Mas esse amargo na boca, vem de onde? Sei lá, cara, eu sou só uma mulher. Meu exército luta sozinho e ainda consegue perder pra si mesmo.




(terminando com uma música
pra inspirar.
ou expirar.)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Das posses.

Uma pequena observação prévia:

O texto a seguir poderia perfeitamente ser acompanhado por alguma música pertencente à trilha sonora de Amélie. Não me perguntem o porquê. Eu apenas sei.



Tenho prateleiras lotadas de livros. Alguns deles, velhos, cheios de assinaturas de antigos donos, são portadores de inúmeras histórias guardadas secretamente pelo amarelo das páginas. Tenho minha música, a que teimo em fazer e a que é feita por outras pessoas, aquela que “vem de fora” e que muitas vezes acaba dizendo mais de mim do que eu mesma conseguiria dizer, aquela que me enternece todas as vezes em que paro para ouvir, aquelas que são responsáveis pelos meus sábados insones e melancólicos, aquelas que me trazem um sorriso de canto de boca por me proporcionarem a lembrança de gente querida. Tenho meu olhar perdido enquanto volto para casa de ônibus, em uma noite qualquer da semana, vendo a cidade passar pela janela e observando a luz fraquejar num apaga-não-apaga regido misteriosamente pelo ritmo das execuções do meu mp4. Tenho uma escaleta azul céu que preenche os espaços silenciosos do meu quarto ao entardecer. Tenho um violão velho, negro, gasto, que ganhei aos 15 anos e do qual nunca mais me separei. Tenho uma caixa recheada de cartas antigas, amassadas, coloridas, incompletas. Nela refletem-se vários anos, inúmeras pessoas, incríveis situações. Alguns cd’s com dedicatórias, autógrafos que denunciam uma tietagem adolescente, pequenos objetos que vieram de longe no tempo e no espaço - um prendedor de cabelo em forma de flor que um amigo-irmão me enviou de algum lugar há quilômetros daqui, um pequeno dado vermelho que me acompanhava nos jogos de infância -, um envelope vazio que deveria guardar papéis que nunca foram recebidos, rascunhos de bilhetes enviados, horários de aulas que trazem à tona uma rotina que já não existe mais...

Dos objetos, que podem ou servir unicamente por sua funcionalidade ou ser motivo de inspiração para os meus trabalhos acadêmicos, vai-se tirando o fôlego para suportar os dias. Refúgio do presente ou fuga ao passado, eles têm voz. E falam incessantemente, mesmo sem usar de palavras. A comunicação transcende o meramente informal e atua em campos que não se pode traduzir em números ou em medidas.

De ideias, cuja característica principal é a imaterialidade, há uma coleção imensa. Tenho uma lista infinita de arrependimentos, de mágoas sanadas, de feridas cicatrizadas, de anseios irreveláveis, de planos concretizáveis. Digo na primeira pessoa do singular por pura manifestação egoísta do eu-lírico, mas levo comigo a certeza de que todos somos portadores dessas sentimentalidades relacionadas aos objetos (ou refletidas por eles), às ideias, ao que está aqui dentro. É o que nos faz humanos, passíveis de erros e navegantes de um cotidiano que encontra sua única graciosidade nos elementos simples. Elementos que nos completam, que nos decepcionam, que nos fazem fortes, e que, apesar de todos os apesares, são o único vínculo que nos permite deixar marcas neste mundo.

sábado, 12 de junho de 2010

Da música.


Troquei momentaneamente a harmonia pela melodia. Dos sons que andavam em conjunto, num entrelaçar de cadências, agora resta o silêncio. A melodia agora se faz presente, caminha, sozinha, vinda do ar. Do meu ar. Pulmões, boca, teclas, sons. A incompletude das notas executadas uma a uma parece-me bastante completa, sim senhor, obrigada. É simples. Não peço mais que isso, não hoje. As notas restantes talvez ainda possam chegar antes que eu desista da música. No meio tempo (ou no contra tempo?) de espera pela parte que transformará a melodia em harmonia, eu paro de tentar desencadear esses sons com meus suspiros e tento enxergar aquilo que se encontra entre mim e a essência do que pretendo me transformar.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Da amizade.


...e a gente continua como sempre. Comecei esta carta propositalmente com reticências e um “e”, como se houvesse uma primeira parte escrita antes e as palavras de agora fossem uma mera continuação de algo que se desenrola há muito tempo. Se pararmos pra pensar, isso de fato é verdade. Acho que nem me cabe mais a descrição da nossa amizade, da nossa ligação, da nossa cumplicidade. Pois se todas as coisas pelas quais passamos inevitavelmente deixaram marcas (sejam elas boas ou ruins), chega um momento que dizer de todas essas marcas e do quanto elas nos influenciaram se torna impossível. Inúmeros fatos são verdadeiros e nós nunca tivemos dúvida alguma sobre eles, o que me conforta absurdamente. Ter plena certeza de que existe alguém que realmente se preocupa com você, que seria capaz de mover céus e terras pra que você não se entristeça e que, apesar de todas as diferenças, entende você como ninguém... É um privilégio pra poucos. Sentir a mesma coisa e ter certeza da reciprocidade disso é um privilégio maior ainda. Tu sabe muito bem o quanto a reciprocidade me é importante, não preciso nem te dizer o porquê...


(ad infinitum)





Trecho de uma carta pra melhor amiga do mundo
Junho de 2010

sábado, 5 de junho de 2010

Das redundâncias


Eu tinha um começo para este texto. Ele veio até mim horas atrás, mas, ao elaborar as primeiras palavras, decidi que ele não seria digno de escrever-se e o desprezei. Joguei no lixo um princípio que sequer tivera a chance de se desenvolver (será que sempre faço isso com tudo?) e agora procuro lembrar-me da frase inicial, obviamente sem sucesso. Como uma “questão de honra”, uma pequena teimosia comigo mesma, decido recomeçar a escrever, mesmo sem o início de outrora. As mesmas palavras que anseiam por transmitir sempre a mesma mensagem, numa eterna repetição que beira o banal. Minha característica redundância que, creio eu, tem como único objetivo o de se fazer ouvir, carregando a vã esperança de que algum super-herói intergaláctico intervenha e me salve dessa busca incessante por um mínimo de cor no quadro pálido ou por um resquício qualquer de som numa trilha sonora silenciosa. Sempre a mesma madrugada, sempre o mesmo frio, sempre a chuva que me visita no meio do processo de escrita (hoje não poderia ser diferente), sempre a mesma escolha temática e lexical, sempre o mesmo olhar perdido na palidez iluminada da noite.

Comecei sem início porque foi assim que me fiz. Trajetória interrompida, história contada pela metade. Acho que sou um personagem que sequer existe. Uma gravação que se repete e que se grava por cima de si mesma, disfarçando-se maravilhosamente bem para todos e para si mesma numa máscara de completude. Um dia, quem sabe, eu possa ouvir o que verdadeiramente está gravado em mim.

domingo, 30 de maio de 2010

Da indefinição.

Está chovendo forte e cada sopro de vento parece querer me roubar de mim. Abro a janela e me deixo tocar pelas gotas d’água, guardando a vã esperança de que esse mesmo vento me leve pra longe, me dê um alento, me faça mergulhar no mais profundo daquele eu-confuso. No fim da trajetória, sempre se espera encontrar respostas. Mas as respostas geram outras perguntas que eu não sei se quero responder.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ao papel em branco que se impõe às minhas mãos neste instante, eu pergunto: Como transportar os pensamentos sem deformá-los? À noite que potencializa a melancolia dos solitários, eu pergunto: Haveria solução?

Se no instante-já desta madrugada insone é possível enxergar-se no espelho de si sem a ostentação de máscaras, se a descrição do indescritível apresenta-se como uma ideia atraente enquanto o sono não chega... Por que não tentar? A chuva visita a minha vigília, como se só o fato de ser noite alta e haver insônia já não bastasse para a construção de um cenário de eternas procuras. Depois de mais um domingo igual a tantos outros, em que escolhi o sono para gastar o tédio, resta-me a elaboração de devaneios que buscam algum sentido em si mesmos. Dizer deles assim, exatamente como vêm à mente, seria desmistificá-los e rebaixá-los a um patamar que não condiz com a sua pretensa magnitude. Transmuto, então. Das palavras vêm as mudanças.

Recusei muito das coisas e de mim mesma nestas horas silenciosas. Sobre as ciências, lembrei-me de alguém dizendo que, quanto mais se busca o conhecimento, mais se distancia daqueles tantos que não o têm. Que fazer, então? Silencio os livros que dizem tanto, fecho as possibilidades de imagensideologiasdefinições criadas por frases feitas. Por este dia, apenas por este, recuso-me. Amanhã, quem sabe, recomeço mais esse processo de distanciamento...

Em vista disso, escrevo. Observo um espelho qualquer para esquecer que estou sozinha. Vejo a noite avançar pela janela, constatando que é impossível esquecer que estou sozinha. Busco o sono (e os sonhos) para esquecer o dia que morreu e para suportar o dia que nascerá. Não é tão ruim quanto os verbos demonstram ser. Sossega, sossega... É perfeitamente possível navegar com um mínimo de dor. E quando perguntam “tá tudo bem contigo?”, você pode responder que tá-tudo-bem-tudo-ótimo com tranquilidade, consciência leve. Porque a nossa verdade é a gente que faz. É só questão de valorizar o que deve ser valorizado, de prestar atenção ao que está em volta, para não deixar nada especial escapar. De guardar a noite para si e deixar sempre espaço para uma flor no meio dos espinhos.



sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sub-li-nhar

para os perdidos,
para os degredados,
Para os que criam asas ao ficarem sós

a noite oferece libertação,
libertinagem,
liquidez,
solidez,
Solidão

e aquela mão que carinhosa busca
algum atalho pros princípios teus
resignadamente se assusta
e cessa às custas dos passados meus

de como eu era mais sutil
por tanto amor
que mal senti...

de quando havia um Pôr-do-Sol,
um dó de si,
você em mim...

então me chega esse latente sopro
de memórias do aqui-agora
de saudades do que há de vir

e onde a paz de que tanto preciso?
e a resposta aos meus devaneios?

o ar da noite traz-me enfim o sim
os sons vieram em direção a ti
sonhando-te no que outrora tive
deixando-te no âmago de mim

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Simplicidade

E quando a música ecoa
numa repetição praticamente interminável?

E quando se prefere
uma frase simples,
sincera,
dita num quase-não-dizer?

E quando se renega
a exacerbada beleza,
as vitrines de exibição,
os versos alencarinos?

E quando as mãos
falam mais que as palavras?

E quando a frase,
a fala,
o não-dizer,
o sorriso
e o silêncio
tomam conta dos seus dias?