segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ao papel em branco que se impõe às minhas mãos neste instante, eu pergunto: Como transportar os pensamentos sem deformá-los? À noite que potencializa a melancolia dos solitários, eu pergunto: Haveria solução?

Se no instante-já desta madrugada insone é possível enxergar-se no espelho de si sem a ostentação de máscaras, se a descrição do indescritível apresenta-se como uma ideia atraente enquanto o sono não chega... Por que não tentar? A chuva visita a minha vigília, como se só o fato de ser noite alta e haver insônia já não bastasse para a construção de um cenário de eternas procuras. Depois de mais um domingo igual a tantos outros, em que escolhi o sono para gastar o tédio, resta-me a elaboração de devaneios que buscam algum sentido em si mesmos. Dizer deles assim, exatamente como vêm à mente, seria desmistificá-los e rebaixá-los a um patamar que não condiz com a sua pretensa magnitude. Transmuto, então. Das palavras vêm as mudanças.

Recusei muito das coisas e de mim mesma nestas horas silenciosas. Sobre as ciências, lembrei-me de alguém dizendo que, quanto mais se busca o conhecimento, mais se distancia daqueles tantos que não o têm. Que fazer, então? Silencio os livros que dizem tanto, fecho as possibilidades de imagensideologiasdefinições criadas por frases feitas. Por este dia, apenas por este, recuso-me. Amanhã, quem sabe, recomeço mais esse processo de distanciamento...

Em vista disso, escrevo. Observo um espelho qualquer para esquecer que estou sozinha. Vejo a noite avançar pela janela, constatando que é impossível esquecer que estou sozinha. Busco o sono (e os sonhos) para esquecer o dia que morreu e para suportar o dia que nascerá. Não é tão ruim quanto os verbos demonstram ser. Sossega, sossega... É perfeitamente possível navegar com um mínimo de dor. E quando perguntam “tá tudo bem contigo?”, você pode responder que tá-tudo-bem-tudo-ótimo com tranquilidade, consciência leve. Porque a nossa verdade é a gente que faz. É só questão de valorizar o que deve ser valorizado, de prestar atenção ao que está em volta, para não deixar nada especial escapar. De guardar a noite para si e deixar sempre espaço para uma flor no meio dos espinhos.



Um comentário:

Tamyle Ferraz disse...

me empresta 30 centavos da sua eloquência?


muito bom!