domingo, 24 de outubro de 2010

Oh my dreams...


Certas músicas te acompanham durante a vida inteira. Quando você escuta uma banda desde que era apenas uma criança, às vezes parece que as canções deixam de pertencer a quem escreveu e passam a ser suas. Animal Instinct é e sempre vai ser a minha música preferida, de todas as bandas, de todas as épocas. Linger foi a primeira música que eu toquei/cantei no meu primeiro ensaio em uma banda. Ode To My Family foi minha companhia em inúmeras madrugadas insones e solitárias. Empty esteve comigo nas viagens, enquanto olhava a paisagem pela janela e pensava na vida. You and Me foi a primeira música que escutei logo depois de ter tido a notícia de que passei no vestibular. Zombie sempre tocou em um volume ensurdecedor entre as 4 paredes do meu quarto. Já cantei Salvation e Ridiculous Thoughts no ápice da adolescência, gritando a plenos pulmões. Já sorri muito com Just My Imagination. Já dividi abraços ouvindo Free To Decide. Já derramei inúmeras lágrimas ouvindo Dreams.


E aí, quando você se dá conta, está no meio de uma multidão ouvindo e cantando junto todas aquelas músicas que marcaram partes importantíssimas da sua vida. Ao Vivo. Ali, pertinho, ao alcance das mãos. Passa um filme na sua cabeça. As lágrimas e o esforço de quem canta no volume mais alto que a própria garganta permite parecem não ser suficientes. Não, a ficha não cai. Eu estava mesmo lá, embora custe a acreditar nisso. Como se não bastasse, consegui pegar o setlist daquela que emprestou sua voz a boa parte dos acontecimentos que eu já vivi. Plumas enroladas no pedestal do microfone, balões vermelhos, setlist, pulseirinhas verdes, fotos, vídeos. A aparente banalidade de todos esses objetos e mídias é cheia de significado e vai servir pra relembrar uma daquelas noites que marcam a existência de alguém.






segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Novos ares:



(uma observação: não pretendo abandonar este espaço.
apenas pensei em outra maneira de me expressar,
criando personagens e situações das quais
as palavras fluem de modo mais verdadeiro.)

sábado, 4 de setembro de 2010

Agora, silêncio.

“Você pensa que ficando trancada em casa com uns instrumentos
vai conseguir ser uma grande artista?”


...e, assim, você se pergunta o que está fazendo. O porquê de estar fazendo. Se muitas pessoas que não te conhecem, que não sabem das suas intenções, estão ali dividindo os mesmos sons no mesmo ambiente, será que vale mesmo a pena? Li em algum lugar que “desistir, ainda que não pareça, foi meu grande ato de coragem.” Desistência dos amores (ir)realizáveis, das opções passíveis de falhas, das amizades que se mostraram frágeis, das gentilezas não correspondidas, das idealizações. Das realizações. Você vive. Ponto. Café, ônibus, faculdade, livros, mp4, ônibus, computador, livros, cama. O dia passa sem que você perceba, não dá tempo de pensar. Quando vê, já acabou. Sorriso no rosto, aparência bem cuidada, alguns amigos que tornam a rotina menos cansativa. Uma ligação ocasional. Uma pequena fuga à rotina. Quem sabe até a promessa de um amor. Só a promessa, porque as realizações obviamente fogem. Alguns atritos, já que sem eles a vida não teria graça. Problemas. Adrenalina. Palavrões. Dores de cabeça. Não dá pra gostar de todo mundo. Não dá pra agradar todo mundo. É impossível conviver bem com alguém que representa algo desagradável pra você. E os mesmos amigos ali, próximos, impondo uma barreira entre você e o que te incomoda, sempre com abraços e palavras certas no gatilho. Aí você pensa se vale a pena. Acaba chegando à conclusão de que nem sempre vale. As quatro paredes do meu quarto que me trancam são as mesmas que me libertam. Se a desistência é provisória? Hm, talvez. Sobre a pergunta do início do texto, bom, sempre tive uma resposta pronta. É engraçado, sabe... Sinceramente, eu nunca quis ser uma grande artista. Nunca mesmo. Isso sequer passou pela minha cabeça.



quinta-feira, 22 de julho de 2010




Ela é tão sozinha.



segunda-feira, 19 de julho de 2010

O destino desfolhou?

Dores de cabeça. É o futuro que deveria funcionar (mas não funciona), as perspectivas de uma realidade ilusória que só sobrevive nos sonhos. A dança dos erros. Dificuldades, incompreensões. Estou aqui, sabe, bem aqui, mas não sou notada. Passo despercebida. As coisas são assim, sempre foram assim. Do meu esforço para abrir uma rachadura na barragem que aprisiona um rio caudaloso, consigo um resultado. Pequeno, é verdade, mas consigo. Ao menos estou segura, não há ninguém que possa me ver assim. Eis... Fecho os olhos e, então, vejo: uma lágrima. A música ajudou. A música sempre ajuda.

sábado, 17 de julho de 2010

O exército de uma mulher só lutando por amor às causas perdidas...

Depois da divagação atemporal de uma janela de ônibus, aqui estou eu, escrevendo por não conseguir pensar em nada mais agradável e mais aliviador pra fazer, num quarto lilás e fechado, onde a voz de Gessinger sussurra algumas frases que eu mesma tenho vontade de dizer. A bateria do mp4 morreu, a música parou no meio do caminho de volta enquanto a cidade cheia de pressa e de fuligem passava por mim, deixando mais evidentes: a) meu cansaço, b) meus cabelos molhados e c) meus olhos cuja vermelhidão alterava o aspecto castanho discutível. Cheguei em casa como quem anda não com pernas, mas com ideias. Como quem voa com elas e para elas. A divagação na “devagar ação” do engarrafamento (e, aqui, como prometido, dou os créditos ao Hilário por ter dito essa expressão numa rara conversa de msn que transcendeu a meia-noite: bem que eu queria pensar nessas frases legais) dá margem a inúmeras resoluções, dá vida a todas aquelas efemeridades profundíssimas que eu nunca tenho coragem suficiente pra externar. E é exatamente por causa dessa covardia que a vida passa por mim sem perceber. Silêncio. Não compensa entrar na dança depois que a música parou. Essa conclusão me veio lenta, num quebra-cabeça cujas peças estavam espalhadas por lugares, por pessoas, por situações que eu nunca imaginaria. Parei de dançar, não entro mais na dança, entende? É que tem hora que o cansaço engole tudo. Os passos que nunca são capazes de sincronizar-se, as cinzas de algo que morreu antes mesmo de nascer, os beijos sem paixão, as frases feitas que parecem vir de qualquer lugar menos do único aceitável: o coração. O âmago. Tudo isso cansa e ultimamente eu tenho estado principalmente cansada de ficar cansada. Sabe aquilo que vai te tirar o fôlego e vai fazer revoluções estrondosas nos teus pensamentos sem que isso seja perceptível pra qualquer pessoa além de ti? Então. É por isso que continuo esperando, mesmo que eu disfarce essa espera com mil afazeres e com um número considerável de adoráveis amigos e com livros e com música e com... (inclua qualquer coisa que vier à sua mente aqui, eu topo). Muito prazer, meu nome é otário. A verdade é que a gente nunca tá satisfeito. Sério, o que mais eu pediria pra satisfazer minhas necessidades vitais e sociais e culturais? Sim, é claro, eu tenho os meus momentos, minhas pequenas epifanias, minhas felicidades efêmeras. Mas esse amargo na boca, vem de onde? Sei lá, cara, eu sou só uma mulher. Meu exército luta sozinho e ainda consegue perder pra si mesmo.




(terminando com uma música
pra inspirar.
ou expirar.)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Das posses.

Uma pequena observação prévia:

O texto a seguir poderia perfeitamente ser acompanhado por alguma música pertencente à trilha sonora de Amélie. Não me perguntem o porquê. Eu apenas sei.



Tenho prateleiras lotadas de livros. Alguns deles, velhos, cheios de assinaturas de antigos donos, são portadores de inúmeras histórias guardadas secretamente pelo amarelo das páginas. Tenho minha música, a que teimo em fazer e a que é feita por outras pessoas, aquela que “vem de fora” e que muitas vezes acaba dizendo mais de mim do que eu mesma conseguiria dizer, aquela que me enternece todas as vezes em que paro para ouvir, aquelas que são responsáveis pelos meus sábados insones e melancólicos, aquelas que me trazem um sorriso de canto de boca por me proporcionarem a lembrança de gente querida. Tenho meu olhar perdido enquanto volto para casa de ônibus, em uma noite qualquer da semana, vendo a cidade passar pela janela e observando a luz fraquejar num apaga-não-apaga regido misteriosamente pelo ritmo das execuções do meu mp4. Tenho uma escaleta azul céu que preenche os espaços silenciosos do meu quarto ao entardecer. Tenho um violão velho, negro, gasto, que ganhei aos 15 anos e do qual nunca mais me separei. Tenho uma caixa recheada de cartas antigas, amassadas, coloridas, incompletas. Nela refletem-se vários anos, inúmeras pessoas, incríveis situações. Alguns cd’s com dedicatórias, autógrafos que denunciam uma tietagem adolescente, pequenos objetos que vieram de longe no tempo e no espaço - um prendedor de cabelo em forma de flor que um amigo-irmão me enviou de algum lugar há quilômetros daqui, um pequeno dado vermelho que me acompanhava nos jogos de infância -, um envelope vazio que deveria guardar papéis que nunca foram recebidos, rascunhos de bilhetes enviados, horários de aulas que trazem à tona uma rotina que já não existe mais...

Dos objetos, que podem ou servir unicamente por sua funcionalidade ou ser motivo de inspiração para os meus trabalhos acadêmicos, vai-se tirando o fôlego para suportar os dias. Refúgio do presente ou fuga ao passado, eles têm voz. E falam incessantemente, mesmo sem usar de palavras. A comunicação transcende o meramente informal e atua em campos que não se pode traduzir em números ou em medidas.

De ideias, cuja característica principal é a imaterialidade, há uma coleção imensa. Tenho uma lista infinita de arrependimentos, de mágoas sanadas, de feridas cicatrizadas, de anseios irreveláveis, de planos concretizáveis. Digo na primeira pessoa do singular por pura manifestação egoísta do eu-lírico, mas levo comigo a certeza de que todos somos portadores dessas sentimentalidades relacionadas aos objetos (ou refletidas por eles), às ideias, ao que está aqui dentro. É o que nos faz humanos, passíveis de erros e navegantes de um cotidiano que encontra sua única graciosidade nos elementos simples. Elementos que nos completam, que nos decepcionam, que nos fazem fortes, e que, apesar de todos os apesares, são o único vínculo que nos permite deixar marcas neste mundo.

sábado, 12 de junho de 2010

Da música.


Troquei momentaneamente a harmonia pela melodia. Dos sons que andavam em conjunto, num entrelaçar de cadências, agora resta o silêncio. A melodia agora se faz presente, caminha, sozinha, vinda do ar. Do meu ar. Pulmões, boca, teclas, sons. A incompletude das notas executadas uma a uma parece-me bastante completa, sim senhor, obrigada. É simples. Não peço mais que isso, não hoje. As notas restantes talvez ainda possam chegar antes que eu desista da música. No meio tempo (ou no contra tempo?) de espera pela parte que transformará a melodia em harmonia, eu paro de tentar desencadear esses sons com meus suspiros e tento enxergar aquilo que se encontra entre mim e a essência do que pretendo me transformar.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Da amizade.


...e a gente continua como sempre. Comecei esta carta propositalmente com reticências e um “e”, como se houvesse uma primeira parte escrita antes e as palavras de agora fossem uma mera continuação de algo que se desenrola há muito tempo. Se pararmos pra pensar, isso de fato é verdade. Acho que nem me cabe mais a descrição da nossa amizade, da nossa ligação, da nossa cumplicidade. Pois se todas as coisas pelas quais passamos inevitavelmente deixaram marcas (sejam elas boas ou ruins), chega um momento que dizer de todas essas marcas e do quanto elas nos influenciaram se torna impossível. Inúmeros fatos são verdadeiros e nós nunca tivemos dúvida alguma sobre eles, o que me conforta absurdamente. Ter plena certeza de que existe alguém que realmente se preocupa com você, que seria capaz de mover céus e terras pra que você não se entristeça e que, apesar de todas as diferenças, entende você como ninguém... É um privilégio pra poucos. Sentir a mesma coisa e ter certeza da reciprocidade disso é um privilégio maior ainda. Tu sabe muito bem o quanto a reciprocidade me é importante, não preciso nem te dizer o porquê...


(ad infinitum)





Trecho de uma carta pra melhor amiga do mundo
Junho de 2010

sábado, 5 de junho de 2010

Das redundâncias


Eu tinha um começo para este texto. Ele veio até mim horas atrás, mas, ao elaborar as primeiras palavras, decidi que ele não seria digno de escrever-se e o desprezei. Joguei no lixo um princípio que sequer tivera a chance de se desenvolver (será que sempre faço isso com tudo?) e agora procuro lembrar-me da frase inicial, obviamente sem sucesso. Como uma “questão de honra”, uma pequena teimosia comigo mesma, decido recomeçar a escrever, mesmo sem o início de outrora. As mesmas palavras que anseiam por transmitir sempre a mesma mensagem, numa eterna repetição que beira o banal. Minha característica redundância que, creio eu, tem como único objetivo o de se fazer ouvir, carregando a vã esperança de que algum super-herói intergaláctico intervenha e me salve dessa busca incessante por um mínimo de cor no quadro pálido ou por um resquício qualquer de som numa trilha sonora silenciosa. Sempre a mesma madrugada, sempre o mesmo frio, sempre a chuva que me visita no meio do processo de escrita (hoje não poderia ser diferente), sempre a mesma escolha temática e lexical, sempre o mesmo olhar perdido na palidez iluminada da noite.

Comecei sem início porque foi assim que me fiz. Trajetória interrompida, história contada pela metade. Acho que sou um personagem que sequer existe. Uma gravação que se repete e que se grava por cima de si mesma, disfarçando-se maravilhosamente bem para todos e para si mesma numa máscara de completude. Um dia, quem sabe, eu possa ouvir o que verdadeiramente está gravado em mim.

domingo, 30 de maio de 2010

Da indefinição.

Está chovendo forte e cada sopro de vento parece querer me roubar de mim. Abro a janela e me deixo tocar pelas gotas d’água, guardando a vã esperança de que esse mesmo vento me leve pra longe, me dê um alento, me faça mergulhar no mais profundo daquele eu-confuso. No fim da trajetória, sempre se espera encontrar respostas. Mas as respostas geram outras perguntas que eu não sei se quero responder.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ao papel em branco que se impõe às minhas mãos neste instante, eu pergunto: Como transportar os pensamentos sem deformá-los? À noite que potencializa a melancolia dos solitários, eu pergunto: Haveria solução?

Se no instante-já desta madrugada insone é possível enxergar-se no espelho de si sem a ostentação de máscaras, se a descrição do indescritível apresenta-se como uma ideia atraente enquanto o sono não chega... Por que não tentar? A chuva visita a minha vigília, como se só o fato de ser noite alta e haver insônia já não bastasse para a construção de um cenário de eternas procuras. Depois de mais um domingo igual a tantos outros, em que escolhi o sono para gastar o tédio, resta-me a elaboração de devaneios que buscam algum sentido em si mesmos. Dizer deles assim, exatamente como vêm à mente, seria desmistificá-los e rebaixá-los a um patamar que não condiz com a sua pretensa magnitude. Transmuto, então. Das palavras vêm as mudanças.

Recusei muito das coisas e de mim mesma nestas horas silenciosas. Sobre as ciências, lembrei-me de alguém dizendo que, quanto mais se busca o conhecimento, mais se distancia daqueles tantos que não o têm. Que fazer, então? Silencio os livros que dizem tanto, fecho as possibilidades de imagensideologiasdefinições criadas por frases feitas. Por este dia, apenas por este, recuso-me. Amanhã, quem sabe, recomeço mais esse processo de distanciamento...

Em vista disso, escrevo. Observo um espelho qualquer para esquecer que estou sozinha. Vejo a noite avançar pela janela, constatando que é impossível esquecer que estou sozinha. Busco o sono (e os sonhos) para esquecer o dia que morreu e para suportar o dia que nascerá. Não é tão ruim quanto os verbos demonstram ser. Sossega, sossega... É perfeitamente possível navegar com um mínimo de dor. E quando perguntam “tá tudo bem contigo?”, você pode responder que tá-tudo-bem-tudo-ótimo com tranquilidade, consciência leve. Porque a nossa verdade é a gente que faz. É só questão de valorizar o que deve ser valorizado, de prestar atenção ao que está em volta, para não deixar nada especial escapar. De guardar a noite para si e deixar sempre espaço para uma flor no meio dos espinhos.



sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sub-li-nhar

para os perdidos,
para os degredados,
Para os que criam asas ao ficarem sós

a noite oferece libertação,
libertinagem,
liquidez,
solidez,
Solidão

e aquela mão que carinhosa busca
algum atalho pros princípios teus
resignadamente se assusta
e cessa às custas dos passados meus

de como eu era mais sutil
por tanto amor
que mal senti...

de quando havia um Pôr-do-Sol,
um dó de si,
você em mim...

então me chega esse latente sopro
de memórias do aqui-agora
de saudades do que há de vir

e onde a paz de que tanto preciso?
e a resposta aos meus devaneios?

o ar da noite traz-me enfim o sim
os sons vieram em direção a ti
sonhando-te no que outrora tive
deixando-te no âmago de mim

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Simplicidade

E quando a música ecoa
numa repetição praticamente interminável?

E quando se prefere
uma frase simples,
sincera,
dita num quase-não-dizer?

E quando se renega
a exacerbada beleza,
as vitrines de exibição,
os versos alencarinos?

E quando as mãos
falam mais que as palavras?

E quando a frase,
a fala,
o não-dizer,
o sorriso
e o silêncio
tomam conta dos seus dias?

sábado, 1 de maio de 2010

Insônia e café forte à meia-noite.

“Penso em você apesar de não sentir sua falta e muito menos sua presença. Penso em você porque sinto um vazio, que eu não sei do quê e nem por quê. Revelo, então, mais uma vez, minha estupidez, já que não é você quem vai me salvar e nem muito menos me catapultar pra uma dimensão mais tranqüila e menos ansiosa de coisas que não têm nome.”
(Caio Fernando Abreu)





E o que fazer quando se quebra todos os conceitos de distância e proximidade? O paradoxo de se estar ao lado, ao alcance de um toque, e ao mesmo tempo ter um abismo separando-nos, o pensamento de se estar distante e poder conversar sempre que preciso... E quando se espera por aquilo que já se sabe que não virá? E quando esse abismo é invisível, não havendo sequer a certeza sobre o fato de ele existir ou não? Os livros lidos e ainda por ler perdem toda e qualquer importância, os dias vindouros não trazem nada além de uma promessa que provavelmente não se cumprirá e de uma certeza de uma espera baseada em histórias passadas que nunca trouxeram resultados. Existiu, existiria, existirá? A insônia após uma ótima noite cercada de amigos incríveis me acompanha. O que ontem era música, hoje é silêncio.

A razão eu desconheço.
Mas um olhar e um abraço demorado poderiam ser suficientes pra dissipar as dúvidas, mudar os rumos da situação, clarear a vida...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Das cores do silêncio.

Portas, janelas, lençóis
Fios de luz da manhã através do telhado
Dos sóis um só se faz
Um livro na cabeceira
Acompanhante fiel da noite fria anterior
Tradutor cruel daquela fuga interior

(E as mãos, que agora tocam a vida sem dela esperar um sentido,
transitam entre a delicadeza da espera e a desilusão do real)

Sem contrato
Não concreto
Por que a fria superficialidade é sempre mais palpável?
Por que a mútua sentimentalidade é tão inatingível?

(E as mãos, que agora passeiam por novos e inesperados tons,
tentam tirar deles qualquer interpretação que liberte do vazio)

Sem preocupação
Sem graves ações
Resignações
Resta deslizar através dos dias
Mergulhando em son(ho)s e perdendo-se em palavras.

domingo, 21 de março de 2010

A Rosa Desfolhada.


Não sou a melhor, nem a mais charmosa, nem a mais popular, nem a mais bonita. Nunca ocupei um lugar prioritário na vida de ninguém. Só tenho as minhas convicções e as palavras pra usar como suporte, que podem ser minhas ou de outros também. O que vale mesmo é a sustentação, não importando de onde ela vem. Nunca importa mesmo. Posso ser tão silenciosa quanto uma página em branco, mas se algo despertar minha atenção eu costumo me derramar num mar de letras ou de sons. Se a maioria vê filmes da moda e dança ao som de pop music, eu costumo gastar minhas raras tardes chuvosas lendo poesia e tocando alguma música inebriante pra mim mesma, ou mesmo tentando cantar alguma coisa com uma voz fraca, que mal consegue sair em vista de tanto sentimento junto e confuso numa mesma canção. Não, não é nada demais. Tenho mais perguntas que respostas, mas creio que a primordial delas tenha a ver com o fato de passar despercebida, de ser meio transparente e apagada em face de outras que brilham mais que eu. Acho que sou estranha e talvez por isso a minha trilha sonora seja tão repleta de silêncios.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Revés de ampulheta.


Recentemente, achei um caderno que me pertenceu aos 6 anos de idade. Meus olhos castanhos discutíveis captaram desenhos, colagens e uma letra trêmula, que ainda estava aprendendo a se auto-afirmar e a ganhar firmeza. A infância presente em cada uma daquelas páginas fez-me lembrar da sensação de estar num lugar onde tudo parece maior do que você mesma. Quando os pés não alcançam o chão ao sentar numa cadeira muito alta ou quando se precisa ficar na ponta dos dedos para visualizar o que se encontra em cima de um balcão. De repente, uma verdade me atingiu como um raio: Todos nós temos um pouco disso. Longe de tudo, não somos nada além de: Uma criança assustada. Apesar dessa certeza irrefutável, continuo não querendo ser tratada assim. Melhor esconder as inseguranças e os temores em uma manta negra e pesada? Talvez. Até gosto de ter dúvidas.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Último Sorvete.


Mesmo ônibus. Sinal, rua, número de passos. O porteiro, que parece estar de mau-humor mesmo nos dias em que se sente alegre. Para auxiliar seu trabalho, a catraca que emperra e insiste em recusar os cartões de acesso, mesmo no turno correto. Os painéis, nos quais são expostos avisos sobre as aulas do dia, resultados dos simulados, indicações das salas em que ocorrerão aulas extras. O tio do sorvete, atrapalhado, que já derramou uma apetitosa bola de morango no próprio pulso e que já me vendeu sorvetes no limiar do derretimento, responsáveis por tantas trágicas manchas nas roupas. O tio do caixa da cantina, leitor assíduo de Stephen King, que morria de rir sempre que eu pedia uma “goiabinha de chocolate”. A tia da cantina, com seu batom vermelho borrado, e o tio da cantina, que sempre atendeu aos meus pedidos de caprichar no leite condensado da minha salada de frutas.

Hoje, minha despedida declarada. Andei pelos corredores, sentei nos bancos, entrei nas salas que mais foram freqüentadas por mim. Só não tive coragem de voltar à biblioteca, por lembrar de quando estive lá, folheei alguns livros que me foram emprestados e achei, dentro de um deles, um comprovante de devolução assinado por mim. Deixei o papel lá, de lembrança, levando aquele momento como o de despedida ideal. De todo aquele lugar, que até então foi minha segunda casa, e de todos os rostos e vozes que se fizeram presentes durante tanto tempo, eu me despedi com um apego de quem olha para trás a cada passo dado em direção à saída. É estranho ver o carrinho de pipocas sem o tio que parece o Zeca Pagodinho. É estranho ter que dizer adeus aos profissionais, que se tornaram amigos e que foram diretamente responsáveis por uma conquista muito significativa na vida de qualquer um. É estranho ter que dizer adeus aos tantos amigos... Aos que construirão suas vidas através de outras áreas do conhecimento e aos que estão com o gosto amargurado da derrota, esse mesmo gosto que se fez tão presente em mim durante tanto tempo, mas que acabou dando um sabor todo especial à sensação de vitória. Conquista evidenciada claramente pela tremedeira e pelas lágrimas que brotam naturalmente no canto do olhar. O não-saber-para-onde-ir, a preocupação com os que ficaram para trás e o estranhamento causado por uma rotina completamente nova parecem ser de uma naturalidade impressionante, estando enraizados nos pensamentos de alguém que viu sua própria vida dar uma guinada tão significativa. Dando um último olhar para todas as coisas, sejam elas mínimas ou máximas, peguei um pedaço de papel numa sala vazia para chamar de último TD. Uma casquinha dupla com meus sabores prediletos para chamar de último sorvete. Um agradecimento a cada professor, a cada funcionário e a cada colega de sala para chamar de última despedida. Uma lembrança para chamar de saudade. Não a última, mas aquela latente, do tipo que não abandona e que faz sorrir ao trazer de volta os momentos bons.

Fechei a porta ao sair.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Que seja doce.


"Hoje eu saí de casa tão feliz, que nem me lembrei que em algumas horas a tristeza bate, me sacode e me faz sentir dores que eu não imaginava que continuavam ali..."

"...Mas eu tinha que ficar contente. E quando você quer, você fica. Comecei a ficar."



Duas citações diferentes que poderiam perfeitamente se encaixar. Algumas coisas na vida funcionam assim, afinal. Que a leveza que me acomete agora continue aqui por um bom tempo. O post é curto porque hoje eu quero viver. :)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Relógio.


Acordei. Suor pingando na testa, marcas de lençol nas mãos. Argh, odeio essas marcas de lençol, na certa devem estar no rosto também. Pomada contra acne, sobrancelha recém-tirada como um adorno quase perfeito aos olhos grandes e profundos e duros, brilhando na escuridão de uma madrugada sem hora. E agora, faço o quê? Acabar com o calor, acabar com a insônia, acabar com a noite, acabar com essa teia fria e insípida que tem tomado conta dos meus dias, transformando-me em qualquer coisa que eu não era antes e seqüestrando-me do domínio de mim. Ah que ironia, logo eu, tão senhora dos meus atos. Logo eu, tão politicamente-correta-exemplo-pra-todo-mundo-tá-vendo-tá-vendo-como-ela-é-demais. Uma teoria: As pessoas me põem num pedestal pra não precisarem se aproximar de mim, pra não ser preciso o toque, o contato. Fato? Talvez. Pode até ser aplicado em alguns casos. Rasgo a noite com um riso. Um riso irônico, claro. Tudo muito largo, as ondas espalham-se pelo quarto e grudam-se no lilás das paredes escondidas pela negra ausência de luz. Belo quadro, não? A senhora dos próprios atos trancafiada no sem hora da noite. Daria um bom título, pra livro, talvez. Vou guardá-lo pra história que não escreverei. Mãos atadas, preciso comprar baterias pra minha lanterninha, sabe como é, preciso ler nessas horas. Não posso acender a luz, não posso incomodar ninguém, não posso, não. Não. Palavrinha dura, essa. Mas eu até gosto dela, como gosto de qualquer coisa que seja diferente de um silêncio, por mais difícil que seja. Será que eu deveria mesmo ter dito tantos nãos? Penso neles e nos nãos que desfizeram muitos planos. Nunca vou saber, que se há de fazer. Só sei que um banho cairia bem. Toalha, sabonete com cheiro de morango (mofado?), saio no escuro, tem gente que acredita que um banho de sais, por exemplo, leva os males embora. Não tenho sais, será que só a água serve? Se não servir, paciência. De qualquer maneira, tudo tanto faz. A noite quente cede às minhas estratégias de ataque. O calor já foi embora, mas ainda não tive coragem de olhar as horas. O tempo ainda me aflige. Um ano, vai fazer um ano. Já fez, fará. Um ano, dez, cem. Sem.

Com essa mínima palavrinha voando à minha volta, durmo quase imediatamente.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Para uma avenca partindo.


Sem mais. Não há o que dizer depois de palavras como essas.
Esperando vir um dia chuvoso, ambiente propício, música adequada. Meu livro do Caio finalmente chegou.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

"Alegrias e penas por aí..."


“Pensar é exercício de alegria
entre veredas de erro, cordilheiras de dúvida,
oceanos de perplexidade.
Pensar, ele o provou, abrange todos os contrastes,
como blocos de vida que é preciso polir e facetar
para a criação de pura imagem:
o ser restituído a si mesmo.
Contingência em busca de transcendência.”
(Drummond)

Oi, blog. Viu como eu tô evoluindo? Quatro postagens em cinco dias, quem diria! Hoje andei fazendo algumas coisas... hm... meio que fora do padrão. Uma vontade absurda de pôr as coisas em ordem. As internas são bem mais complicadas, mas nas externas pode-se dar um jeito. Não digo faxina, já que a genética definitivamente me privou de qualquer dote doméstico que vá além de fazer deliciosas trufas de chocolate com recheios privilegiados no quesito leite condensado. Nada disso. Arrumei papéis antigos, joguei muita coisa fora, consertei meu subwoofer - Dá pra acreditar que três das cinco caixas de som estavam com mau contato? Por isso eu sentia tanta falta de alguns instrumentos quando ouvia minhas músicas! Um absurdo! -, limpei meus óculos, organizei meus vestidos... Tudo isso ouvindo um Ray LaMontagne falando “I still care for you” num timbre rouco charmosíssimo. Aproveitei pra organizar umas coisinhas pro meu pai, uma pequena recompensa pelo carinho, já que ele vem ao meu quarto - o mais isolado da casa - inúmeras vezes ao longo do dia só pra me dar um beijo e constatar que: a) sim, eu ainda estou lendo; b) sim, tá tarde, mas não precisa apagar a luz que eu ainda estou lendo; c) sim, eu já terminei aquele livro, mas peguei outro logo em seguida e a fila literária anda. Aliás, voa. Estou prestes a bater um recorde, quatro livros em menos de um mês. Ah, férias. Por que você não chegou antes?




P.S.: As inúmeras citações ao Drummond não são por acaso. Li a metade de um livro dele durante um pedacinho da tarde. O resto dela foi dedicada a um som em volume relativamente alto, à arrumações de objetos pessoais e à adrenalina proporcionada por episódios quentíssimos de Prison Break. Por enquanto, tentarei conciliar a leitura de dois livros simultâneos, o que só será possível porque um deles é justamente de poesia. Sabe como é, uma viagem à Nárnia, uma pausa com o amor terno de Drummond. Quem sabe isso dá certo.

P.S.2: Post estranho, né? Parece diário. Mas enfim. Não me prenderei a estilos de escrita, assim como não me prenderei a muita coisa que me restringia antigamente. Sabe aquelas pequenas metas de ano novo? Pois é.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Oi? =D


"Para sonhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre."
(Carlos Drummond de Andrade)

Hoje eu tô morrendo de vontade de... rir, sorrir, abstrair, distrair, desmedir. Sabe o que é você não ter nada pra fazer e resolver pôr uma música alto-astral no volume máximo? Pois é.
Valeu pelo impulso, Drummond.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Motivo eu já nem sei.

Frio, cobertor, letras. Uma música ouvida antes do sono ainda presente no inconsciente. Vento sorrateiro mexendo de leve nos cabelos, que se movimentam quase imperceptivelmente. Crio coragem e pego o violão. O que ressoava na minha mente agora enche o quarto de sons melodicamente perfeitos para o momento. A voz do cantor transforma-se na minha, ainda fraca devido ao sono. O som da chuva mistura-se ao dos acordes e da voz. O cheiro da água batendo em telhados, em terra e em gente mistura-se ao cheiro de páginas novas do livro que descansa na mesinha de cabeceira e ao meu próprio cheiro, presente no cobertor que me abrigou durante mais uma noite fria de sábado. A janela, tão próxima da cama, permite a passagem de algumas gotículas, que, saindo das nuvens, vêm sutilmente molhar alguns fios de cabelo, a extremidade do braço do violão, a capa do livro, a ponta de meus dedos. Os minutos escorrem como se evaporassem no ar, cada instante do passado se desfaz involuntariamente enquanto um novo se apresenta de maneira fugaz, quase num pedido de desculpas por tamanha intransigência de aparecer sem ser chamado. A música acaba. Os braços descansam em cima do violão, num quase abraço que implora por um pouco de calor. O olhar concentra-se nas nuvens, que insistem em esconder o céu, e os pensamentos perdem-se na chuva, que, aos poucos, começa a passar.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Página em branco.


Sabe quando você não sente que um dia tá acabando? Pois é. O mesmo acontece quando um mês tá acabando, quando um ano tá acabando... Ou mesmo quando uma fase da sua vida tá acabando. O começo de algo novo é como o primeiro sopro de ar adquirido após um mergulho intenso. Revigora os pulmões, a alma sorri. Talvez pelo fato de que a contagem do tempo é algo puramente cronológico, inventado pelo imperfeito homem. O verdadeiro tempo, incontável, não nos pertence e encontra-se num nível superior ao que nós estamos. Nunca sabemos quando algo verdadeiramente acabou. Às vezes resta uma sombra, escondida, que retorna com todas as forças a cada vez que surge uma oportunidade qualquer, obscurecendo tudo ao redor. Outras vezes, porém, o sumiço acontece de forma tão sorrateira que nos espantamos ao constatar que as mudanças aconteceram. Ontem, à meia-noite, ao ver um milhão de pessoas comemorando um ano novo que chegava, essa sensação ficou bem clara pra mim. Na verdade não queria comemorar, pois acho que não andei tendo muitos motivos pra isso, mas queria, humildemente, pedir aos céus, aos orixás, aos deuses, aos santos, às divindades naturais... ao que quer que fosse, queria pedir uma leveza, uma serenidade, uma paz interior e exterior que contaminasse tudo e todos que estivessem ao meu redor, uma espécie de luz que tivesse o poder de atrair o máximo possível de acontecimentos e pessoas doces. Fáceis, acessíveis, simples, do bem.

O frio vem conforme o cobertor. Meu principal pedido foi que o meu cobertor continuasse sendo suficiente pra agüentar todo o frio que pudesse vir a me fazer mal. Que eu continuasse tendo a capacidade de sorrir e que a frustração e a decepção causada por algumas pessoas passasse a não mais me magoar. Ou, pelo menos, que essa mágoa se desse de forma menos prejudicial a mim mesma. Que eu mantivesse a minha espontaneidade, o meu caráter forte e o meu radar, que capta as hipocrisias que me cercam. Ah, que eu não queira mais palavras daqui pra frente. Que eu não fique mais feito tonta, esperando por uma mínima manifestação de carinho de quem me descarta como um livro velho de auto-ajuda. Sabe? Explodam-se os outros, o meu reveillon tinha que ser o melhor possível. E foi. Pra mim mesma. Não há como evitar um sorriso enquanto se ouve a Nona de Beethoven e o Bolero de Ravel enquanto uma chuva de cores ilumina os céus no lugar onde você está. Não há como evitar um sorriso enquanto se abraça uma das melhores pessoas do mundo e há o pensamento conjunto: “Estamos aqui, sozinhas, mas... olha, vencemos mais um. Mais um ano de muitos que já se foram e de muitos que ainda virão pra nós. Sozinhas por um lado, incontestavelmente unidas por outro.”

Católicos, budistas, evangélicos... Não interessa a religião. Todos pulavam as sete ondas, jogavam-se no mar, abraçavam-se, comemoravam. Todos com um pensamento de positividade pra receber uma página em branco prestes a ser preenchida por todos nós, pedindo a uma força superior – seja ela qual for – que faça com que esse preenchimento ocorra da melhor forma possível. Fica a lição de positividade, mesmo em face das piores decepções, dos mais trágicos acontecimentos, dos maiores períodos de tristeza, das vergonhosas derrotas... O frio vem conforme o cobertor. Que o meu seja bem resistente. Que 2010 seja doce.