sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Página em branco.


Sabe quando você não sente que um dia tá acabando? Pois é. O mesmo acontece quando um mês tá acabando, quando um ano tá acabando... Ou mesmo quando uma fase da sua vida tá acabando. O começo de algo novo é como o primeiro sopro de ar adquirido após um mergulho intenso. Revigora os pulmões, a alma sorri. Talvez pelo fato de que a contagem do tempo é algo puramente cronológico, inventado pelo imperfeito homem. O verdadeiro tempo, incontável, não nos pertence e encontra-se num nível superior ao que nós estamos. Nunca sabemos quando algo verdadeiramente acabou. Às vezes resta uma sombra, escondida, que retorna com todas as forças a cada vez que surge uma oportunidade qualquer, obscurecendo tudo ao redor. Outras vezes, porém, o sumiço acontece de forma tão sorrateira que nos espantamos ao constatar que as mudanças aconteceram. Ontem, à meia-noite, ao ver um milhão de pessoas comemorando um ano novo que chegava, essa sensação ficou bem clara pra mim. Na verdade não queria comemorar, pois acho que não andei tendo muitos motivos pra isso, mas queria, humildemente, pedir aos céus, aos orixás, aos deuses, aos santos, às divindades naturais... ao que quer que fosse, queria pedir uma leveza, uma serenidade, uma paz interior e exterior que contaminasse tudo e todos que estivessem ao meu redor, uma espécie de luz que tivesse o poder de atrair o máximo possível de acontecimentos e pessoas doces. Fáceis, acessíveis, simples, do bem.

O frio vem conforme o cobertor. Meu principal pedido foi que o meu cobertor continuasse sendo suficiente pra agüentar todo o frio que pudesse vir a me fazer mal. Que eu continuasse tendo a capacidade de sorrir e que a frustração e a decepção causada por algumas pessoas passasse a não mais me magoar. Ou, pelo menos, que essa mágoa se desse de forma menos prejudicial a mim mesma. Que eu mantivesse a minha espontaneidade, o meu caráter forte e o meu radar, que capta as hipocrisias que me cercam. Ah, que eu não queira mais palavras daqui pra frente. Que eu não fique mais feito tonta, esperando por uma mínima manifestação de carinho de quem me descarta como um livro velho de auto-ajuda. Sabe? Explodam-se os outros, o meu reveillon tinha que ser o melhor possível. E foi. Pra mim mesma. Não há como evitar um sorriso enquanto se ouve a Nona de Beethoven e o Bolero de Ravel enquanto uma chuva de cores ilumina os céus no lugar onde você está. Não há como evitar um sorriso enquanto se abraça uma das melhores pessoas do mundo e há o pensamento conjunto: “Estamos aqui, sozinhas, mas... olha, vencemos mais um. Mais um ano de muitos que já se foram e de muitos que ainda virão pra nós. Sozinhas por um lado, incontestavelmente unidas por outro.”

Católicos, budistas, evangélicos... Não interessa a religião. Todos pulavam as sete ondas, jogavam-se no mar, abraçavam-se, comemoravam. Todos com um pensamento de positividade pra receber uma página em branco prestes a ser preenchida por todos nós, pedindo a uma força superior – seja ela qual for – que faça com que esse preenchimento ocorra da melhor forma possível. Fica a lição de positividade, mesmo em face das piores decepções, dos mais trágicos acontecimentos, dos maiores períodos de tristeza, das vergonhosas derrotas... O frio vem conforme o cobertor. Que o meu seja bem resistente. Que 2010 seja doce.

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