domingo, 30 de maio de 2010

Da indefinição.

Está chovendo forte e cada sopro de vento parece querer me roubar de mim. Abro a janela e me deixo tocar pelas gotas d’água, guardando a vã esperança de que esse mesmo vento me leve pra longe, me dê um alento, me faça mergulhar no mais profundo daquele eu-confuso. No fim da trajetória, sempre se espera encontrar respostas. Mas as respostas geram outras perguntas que eu não sei se quero responder.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ao papel em branco que se impõe às minhas mãos neste instante, eu pergunto: Como transportar os pensamentos sem deformá-los? À noite que potencializa a melancolia dos solitários, eu pergunto: Haveria solução?

Se no instante-já desta madrugada insone é possível enxergar-se no espelho de si sem a ostentação de máscaras, se a descrição do indescritível apresenta-se como uma ideia atraente enquanto o sono não chega... Por que não tentar? A chuva visita a minha vigília, como se só o fato de ser noite alta e haver insônia já não bastasse para a construção de um cenário de eternas procuras. Depois de mais um domingo igual a tantos outros, em que escolhi o sono para gastar o tédio, resta-me a elaboração de devaneios que buscam algum sentido em si mesmos. Dizer deles assim, exatamente como vêm à mente, seria desmistificá-los e rebaixá-los a um patamar que não condiz com a sua pretensa magnitude. Transmuto, então. Das palavras vêm as mudanças.

Recusei muito das coisas e de mim mesma nestas horas silenciosas. Sobre as ciências, lembrei-me de alguém dizendo que, quanto mais se busca o conhecimento, mais se distancia daqueles tantos que não o têm. Que fazer, então? Silencio os livros que dizem tanto, fecho as possibilidades de imagensideologiasdefinições criadas por frases feitas. Por este dia, apenas por este, recuso-me. Amanhã, quem sabe, recomeço mais esse processo de distanciamento...

Em vista disso, escrevo. Observo um espelho qualquer para esquecer que estou sozinha. Vejo a noite avançar pela janela, constatando que é impossível esquecer que estou sozinha. Busco o sono (e os sonhos) para esquecer o dia que morreu e para suportar o dia que nascerá. Não é tão ruim quanto os verbos demonstram ser. Sossega, sossega... É perfeitamente possível navegar com um mínimo de dor. E quando perguntam “tá tudo bem contigo?”, você pode responder que tá-tudo-bem-tudo-ótimo com tranquilidade, consciência leve. Porque a nossa verdade é a gente que faz. É só questão de valorizar o que deve ser valorizado, de prestar atenção ao que está em volta, para não deixar nada especial escapar. De guardar a noite para si e deixar sempre espaço para uma flor no meio dos espinhos.



sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sub-li-nhar

para os perdidos,
para os degredados,
Para os que criam asas ao ficarem sós

a noite oferece libertação,
libertinagem,
liquidez,
solidez,
Solidão

e aquela mão que carinhosa busca
algum atalho pros princípios teus
resignadamente se assusta
e cessa às custas dos passados meus

de como eu era mais sutil
por tanto amor
que mal senti...

de quando havia um Pôr-do-Sol,
um dó de si,
você em mim...

então me chega esse latente sopro
de memórias do aqui-agora
de saudades do que há de vir

e onde a paz de que tanto preciso?
e a resposta aos meus devaneios?

o ar da noite traz-me enfim o sim
os sons vieram em direção a ti
sonhando-te no que outrora tive
deixando-te no âmago de mim

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Simplicidade

E quando a música ecoa
numa repetição praticamente interminável?

E quando se prefere
uma frase simples,
sincera,
dita num quase-não-dizer?

E quando se renega
a exacerbada beleza,
as vitrines de exibição,
os versos alencarinos?

E quando as mãos
falam mais que as palavras?

E quando a frase,
a fala,
o não-dizer,
o sorriso
e o silêncio
tomam conta dos seus dias?

sábado, 1 de maio de 2010

Insônia e café forte à meia-noite.

“Penso em você apesar de não sentir sua falta e muito menos sua presença. Penso em você porque sinto um vazio, que eu não sei do quê e nem por quê. Revelo, então, mais uma vez, minha estupidez, já que não é você quem vai me salvar e nem muito menos me catapultar pra uma dimensão mais tranqüila e menos ansiosa de coisas que não têm nome.”
(Caio Fernando Abreu)





E o que fazer quando se quebra todos os conceitos de distância e proximidade? O paradoxo de se estar ao lado, ao alcance de um toque, e ao mesmo tempo ter um abismo separando-nos, o pensamento de se estar distante e poder conversar sempre que preciso... E quando se espera por aquilo que já se sabe que não virá? E quando esse abismo é invisível, não havendo sequer a certeza sobre o fato de ele existir ou não? Os livros lidos e ainda por ler perdem toda e qualquer importância, os dias vindouros não trazem nada além de uma promessa que provavelmente não se cumprirá e de uma certeza de uma espera baseada em histórias passadas que nunca trouxeram resultados. Existiu, existiria, existirá? A insônia após uma ótima noite cercada de amigos incríveis me acompanha. O que ontem era música, hoje é silêncio.

A razão eu desconheço.
Mas um olhar e um abraço demorado poderiam ser suficientes pra dissipar as dúvidas, mudar os rumos da situação, clarear a vida...