terça-feira, 17 de novembro de 2009

If I trust in you, oh please, don't run and hide.

Ela tinha cachos, medo e um violão. Tinha também, nas mãos, uma revelação que acabara de ser entregue por mim. Sobre todos os momentos que passamos juntos, fossem contatos frágeis de corredor ou lapsos de pequenas loucuras ao cantarmos Eleanor Rigby com o máximo de intensidade que a nossa garganta permitia, naquele momento eu a fazia ver tudo sob um ângulo diferente, o meu ângulo, o ângulo que eu imaginava como sendo nosso. Seus olhos fecharam-se, como quem procura ver o passado olhando pra dentro de si. Principiei uma frase que ficou solta no ar, soando baixinho. Ela interrompeu: por favor, não fala nada. Silêncio. Meu vigor de rapaz jovem e robusto se perdia na grandeza de qualquer gesto que ela fizesse. Estava atônito, indefeso, à espera de qualquer reação, quando as cordas nervosas começaram a soar. Era If I Fell, saindo do violão lentamente, da maneira mais simples que eu já havia escutado. A melodia escorregava naquelas cordas, tocadas por mãos ligeiramente trêmulas, e ela não precisou falar nada pra que eu entendesse. Sua voz não saiu, mas a letra daquela canção ecoava na minha cabeça como uma clara mensagem avisando que eu seria, dali pra frente, o homem mais feliz do mundo. Os movimentos dos dedos pararam, mas não largaram o braço do violão. Olha pra mim, ela disse. Tive vontade de abraçá-la e dizer que eu jamais permitiria que ela se sentisse sozinha novamente, mas, dessa vez, foi a minha voz que teimou em não sair. Apenas olhei-a profundamente, como quem mergulha num oceano de infindáveis sensações.

2 comentários:

Anônimo disse...

'Estava atônito, indefeso, à espera de qualquer reação, quando as cordas nervosas começaram a soar." Usando a figurinha de linguaguem que o Webster mais gosta, hein? xD hauhauhauuahua

Apesar de nenhuma voz ter saído nesse instante, tudo que tinha pra ser dito foi dito... com o olhar.

Thamires disse...

Pensei no Webster pra escrever essas coisas, fato. :D