domingo, 8 de novembro de 2009

Cem anos de perdão.



De repente me deu uma vontade de vê-la. Foi daquelas vontades que surgem do nada, como desejar tomar aquele sorvete que só tem na casa da sua avó, a kms de distância da sua cidade. Não, não, a vontade não vem do nada, vem da falta. Como faz falta ouvir a voz dela. Se o problema fosse sorvete, eu esperava as férias, pegava um ônibus e casava a visita aos familiares distantes com o gelado delicioso. Mas meu problema é outro, bem mais sério. Eu sinto saudades dela. E, diferente do sorvete, eu não posso simplesmente pegar um ônibus e fazer-lhe uma visita. Ela se transformou num poema calmo e tranqüilo. Não quero agora lembranças. Elas já estão muito bem guardadas nos álbuns do armário, nas cartas e na minha memória. Antes eu queria saber por que a luta dela não durou mais. Hoje já não me faz diferença. Adianta uma folha brigar e se desgastar, lutando para não cair da árvore no outono? Elas simplesmente vão ao chão. Mesmo caindo, elas têm graça e leveza. Mesmo no chão, têm a pureza e a beleza de uma folha. Não menos importantes pelo fato de terem caído, mas sendo assim, caducifólias, na sua essência. Eu quero poder abraçá-la novamente. E vê-la nos Natais, nas Páscoas e em outras datas comemorativas em que éramos presenteados com a sua presença. Eu quero falar-lhe coisas que não disse, só mais um 'Obrigado por tudo', pra enfatizar. Apesar de tudo, me sinto bem. Sinto lá no fundo que ela sabe de tudo isso. Porque alguns poemas (os mais sábios) conhecem muito mais o poeta do que o poeta conhece o poema. Eu não tenho dúvida nenhuma de que ela se transformou num desses sábios poemas, que são breves e levam consigo um significado infinito. Como é infinita a minha saudade. Hoje ela já não dói, é somente saudade, falta, lágrima, sem dor, sem cheiro, sem arrependimento. É saudade que não passa. É saudade, não medo. É conhecimento, quase tácito, de que ela está bem. Pois sinto que, onde está, ela respira ar puro, sorri e brinca no poema e na lua, com o bochechudo Raul.



Como se pode perceber, andei me esquivando da escrita. Para preencher o vácuo deixado pela falta de escapismo exigida por mim mesma, ando lendo bastante. Tudo o que posso, nos lugares mais inimagináveis. Coleciono fragmentos de textos que encontro por aí e guardo num documento do Word. Há inúmeros exemplares de trechos com os mais diversos significados e eu sempre tomo o cuidado de anotar o autor ou a fonte de onde foi extraído o exemplar da minha coleção. Nesse caso aí de cima, não há o nome do autor. Não lembro por qual razão, talvez tenha achado num site sem uma autoria definida ou talvez tenha sido o puro esquecimento que se faz cada vez mais presente no decorrer dos meus dias. Mas que fique bem claro que eu não sou ladra de palavras e que precisava postar aqui por achá-las de uma beleza absurdamente singular. O ditado não se aplica diretamente a mim, mas talvez eu tenha os meus cem anos de perdão por essa falha de dados nos meus trechos colecionados. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo. Simplesmente lindo.
"Adianta uma folha brigar e se desgastar, lutando para não cair da árvore no outono?" Foi a melhor citação. Não só porque se aplica à minha vida, mas porque se aplica à vida de qualquer pessoa que esteja precisando ouvir exatamente isso.

ps. eu crente que tinha sido tu a autora dessas palavras tão bonitas de se ler.
te amo demais.

Thamires disse...

Não, não adianta. Cai do mesmo jeito. Por isso eu sempre prefiro cair logo, ao menos não me destruo mais que o tanto que já fui destruída. :T Mas enfim... de certa forma até se aplica a mim também.

Parece que fui eu que escrevi? *-* (morri) asdihaishdiuahda te amo, flor. sei que não costumo responder comentários no blog, mas fica aqui mais um exemplar da minha coleção, pra gente.

"Eram dias parados, aqueles. Por mais que se movimentasse em gestos cotidianos - acordar, comer, caminhar, dormir, dentro dele algo permanecia imóvel. Como se seu corpo fosse apenas a moldura do desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos, olhos fixos na distância. Ausentou-se, diriam ao vê-lo, se o vissem. E não seria verdade. Nesses dias, estava presente como nunca, tão pleno e perto que estava dentro do que chamaria - tivesse palavras, mas não as tinha ou não queria tê-las - vaga e precisamente de: A Grande Falta."

(acho que não preciso dizer quem escreveu, tá subentendido)