domingo, 17 de maio de 2009

Sobre janelas, pássaros e prisões.




Feriado. Fim de tarde. Após ver um filme mediano, estava gastando meu precioso tempo livre da maneira da qual mais gosto: lendo um livro. Não, não tinha nada a ver com vestibular. Era um livro introspectivo, cujas 16 primeiras páginas já estavam no limite de arrancar-me lágrimas.

Eis que ouço um bater de asas. A janela do meu quarto é coberta pelo que chamam de toldo, a cobertura rosa da janela da foto. Dois pássaros estavam presos dentro desse toldo, voaram lá para baixo de alguma maneira e não conseguiam mais sair. Eles pareciam sofrer. Havia uma barreira que os separava do mundo, eles estavam presos naquela minúscula área escura e coberta, não viam o céu e só sabiam bater as asas insistentemente. Larguei o livro sentimental e fui ver de perto o que acontecia. Tentei chamá-los (o que rendeu risadas aqui em casa, eu os chamava como se fossem cachorrinhos), tentei bater na janela para que se assustassem com a minha fingida agressividade e se libertassem dali, pus as mãos para fora e tentei tocá-los. Mas eu falhei, pra variar. Meus braços são pequenos demais, eu não sei enganar as pessoas fingindo ser rude, minha máscara acaba caindo nessas situações e eu acabo sendo refém de mim mesma ao realizar algum ato amável, quase sempre. O fato é que eles ainda estavam ali, sendo privados do mundo que os cercava. Por alguns momentos, pararam e pousaram nos ferros internos do toldo, como se desistissem. Como se permitissem que aquela cobertura os oprimisse e os fizesse sofrer. Às vezes, nos acostumamos com o sofrimento. Às vezes o fato de certas situações nos trazerem pequenas alegrias momentâneas nos faz esquecer que as tristezas e destruições são muito maiores que os efêmeros segundos de felicidade. Então, continuamos a sofrer esperando pacientemente o próximo mínimo momento feliz chegar. Tornamo-nos conformados, deixamos para lá e seguimos o desperdício de um tempo que poderia ser tão melhor aproveitado.

Estava observando-os e pensando sobre isso, até que um deles conseguiu escapar. Quase numa queda livre, mergulhou e alçou vôo em direção ao seu destino incerto. O outro ficou ali, estagnado, conformado, parecia que ficaria preso eternamente. Olhava fixamente para a barreira que o impedia de voar e continuava pousado em cima dos ferros de sustentação do toldo. Falava pra ele, nos meus pensamentos: “Por favor, por favor, deixa eu te ensinar a voar?”. Tinha vontade de ensiná-lo, como se ele não soubesse. Falaria, daquele meu jeito, que a situação era simples e o mundo é que fez questão de complicá-la. Era só mergulhar no ar, voar baixo e sair daquela clausura que o tirava do céu. Eu faria tudo, daria tudo de mim pra libertá-lo. Tudo bem, pode ser só um pássaro, mas eu tenho um instinto que me diz pra evitar qualquer tipo de sofrimento que possa ser evitado. O instinto era categórico ao deixar bem claro que eu tinha que fazer tudo o que fosse possível pra libertá-lo. Dar-lhe o mundo era o que eu mais queria. Depois de um tempo, de alguma maneira, ele parece ter me ouvido. Finalmente tomou coragem, atirou-se, libertou-se e voou.

O curioso é que ele não voou para longe. Pousou num fio ali, em frente à minha janela. Como se, ao ficar ali parado, me dissesse: “Desculpe, mas agora eu vou ter que me despedir de você. Não posso ser seu, não posso estar sempre com você, não posso tirar essa sua solidão que já se encontra enraizada. Você me ajudou e agora estou indo embora. Preciso da minha liberdade e da minha conformidade em sofrer nas gaiolas que aparecem na minha frágil vida. Peço desculpas, muitas desculpas, por não poder salvar-lhe. Mas agradeço eternamente a você, minha salvadora.”

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