domingo, 20 de dezembro de 2009

Pé de cachimbo.


Hoje é domingo e, na praia, o marido jogou um copo cheio de cerveja na direção da esposa porque esta o implorava para que ele parasse de beber. A mulher rica saiu do salão de beleza onde gastara uma quantia astronômica num corte de cabelo e pareceu nem notar a presença da criança que pedia esmolas na rua. O pai ausente, que passava a semana toda trabalhando, pegou a cerveja na geladeira e ficou a tarde inteira vendo futebol enquanto o filho brincava sozinho no quarto. A namorada insensível saiu da casa do namorado apressada e impaciente, não se dando sequer o trabalho de responder às declarações amorosas que dele recebera. A adolescente, que pensava ser popular, chorou sozinha porque tinham esquecido que aquele era o dia de seu aniversário. O rapaz solitário arrumou as malas, sabendo que não teria para quem trazer um colar ou um anel como presentes da viagem. A mãe solteira, que ficava o tempo todo ansiando por um final de semana com o filho, entristeceu-se ao ver que ele preferia ficar o dia inteiro jogando videogame a ter a companhia dela. A menina sonhadora escreveu cartas para aquele que provavelmente riria dela e a desprezaria se um dia lesse aquelas palavras. A senhora de cabelos brancos, abatida pelo tempo e pelo cansaço, afligia-se porque não conseguia lembrar direito do dia em que se casou com seu falecido marido. A moça solitária tocou violão no seu quarto e desejou que alguém estivesse ali, enquanto observava o pôr-do-sol da sua janela. A mulher inteligente e infeliz no casamento sentiu que a sua vida poderia estar sendo muito diferente ao reencontrar um antigo colega de faculdade e receber dele um abraço carinhoso e nostálgico depois de tantos anos.

Hoje é domingo. Só mais um domingo no meio de tantos outros dias que nascem e morrem, encurtando as nossas vidas. A cada domingo que passa, no qual aceitamos as situações ruins, parecemos ter a certeza de que não agüentaremos a próxima segunda-feira. Tão tolos somos nós, completamente cegos para o fato de que as mudanças residem aqui dentro, no âmago, onde a contagem do tempo não alcança e não ameaça, e os domingos nada são além de um conjunto de sensações que morrem junto com o fim da madrugada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente, domingo é só mais um domingo. É o dia que a gente usa pra descansar. É o dia que quando está perto do fim, já pede a Deus pelo próximo. É o dia dos encontros dos casais apaixonados. É o dia das discussões entre familiares e amigos. No fim, só resta a nós mudar o nosso domingo. Saber o que fazer e aproveitar bem. Nem precisa ser o domingo perfeito, na verdade. Nem precisa de luzes e glamour só porque é domingo. Só é preciso que seja bom, pra acordar na segunda pela manhã lembrando do dia anterior e pensar alto: é, talvez o próximo seja tão bom quanto esse. (Senão melhor :D)