sábado, 4 de julho de 2009

O Mar. A Mar.

Outra tarde que caía num lapso de cores e o mar encontrava-se agitado. Batia nas pedras como se testasse a sua resistência. Ali, andando por aquele lugar tão freqüentado por ela em outros tempos, já era possível sentir o cheiro da noite. Debruçou-se naquele pedaço de madeira branca que limitava o espaço entre a ponte, o céu e o mar. Ironicamente, estava de costas para o sol, que repetia seu magnífico ritual de despedida. Ela não queria o céu, queria o mar. O ímpeto de jogar um objeto seu naquela imensidão azul tomou conta dela, mas foi contida a tempo. Alguém havia chegado. Sem falar nada, como de costume, pôs-se ao lado dela e compartilhou sua visão. Só havia silêncio. A água parecia ter ficado mais calma, como se tivesse vida e pudesse falar por eles. Os dois permaneciam parados e calados. Ele, com sua presença que se fazia notar ao longe - mesmo em silêncio -, como se sua alma chegasse primeiro e ali permanecesse, apenas esperando que o corpo também chegasse e pudesse agir, tão logo tivesse coragem para tal feito. Ela, com sua paz esfíngica, assemelhando-se àquelas estátuas gigantescas que parecem não se abalar por nada, mas que guardam dentro de si a fragilidade da areia.

O silêncio foi quebrado. Pelos dois, simultaneamente. Nada foi entendido e os risos que denunciavam a insegurança no modo de agir foram despejados naquele mar. Após esse pequeno lapso nos atos tão milimetricamente calculados, a seriedade, mais uma vez, se instalara. Não houvera ensaio e aquele era o momento. Ele, sabendo que tinha praticamente obrigação de falar qualquer coisa, quebrou o silêncio mais uma vez.

- Nunca te vi tão bonita.
- Sempre vi beleza em você.

O silêncio estabeleceu-se novamente, como se voltasse arrependido de ter saído. Ela sempre tinha respostas prontas. A antítese explícita pelas duas palavras o deixara desconfortável.

- Desculpe por não ter percebido antes o quanto você é especial.

Ela não falou nada. Acontecesse o que acontecesse, ela não sentia mais vontade de verbalizar palavra alguma. Sentindo uma necessidade gigantesca de recuperar todos os erros que cometera, ele afastou o silêncio uma última vez.

- E se eu estiver me apaixonando por você?
- Então, estamos quites.

Um comentário:

Anônimo disse...

E o amor é incrivelmente lindo e inesperado.