sábado, 25 de julho de 2009

Sobre a banda do coração.

09 de junho de 2007.

Nessa data, familiar para muitos dos meus amigos, realizou-se aquele que seria o último show do Los Hermanos antes de seu tão comentado “recesso por tempo indeterminado”. Só hoje, mais de dois anos depois, pude ver o dvd resultante daquelas noites e ter a comprovação de que eles marcaram a vida de milhares de pessoas, não só a minha.

Mais de dois anos. Tanta coisa me aconteceu de dois anos pra cá! Naquela época, conturbadíssima pra mim, eu lembro que a notícia do recesso me trouxe lágrimas que saíram assim, naturais. Como se não pudessem ser evitadas, como se fossem absolutamente necessárias. Naquela época, eu ainda estava aprendendo o pouco de violão clássico que sei e foi exatamente a época em que perdi uma tia. Naquela época, eu já tinha o meu vício por fones de ouvido. Gostava de acordar cedíssimo, me arrumar com calma, pegar aquele ônibus e me desligar do mundo através dos fones, que me traziam as duas vozes que mais conseguiam (e conseguem até hoje) me emocionar. Gostava de ouvir antes do colégio, porque me trazia certo alívio para ir a aquele lugar que eu realmente não tolerava. Minhas manhãs preferidas eram as chuvosas, que traziam consigo um toque a mais de solidão e de escuridão, com aquela preguiça do sol de sair de trás das nuvens. O som da chuva misturava-se aos versos das canções e as lágrimas de emoção que eram sempre derramadas pelo público e por mim estavam presentes em forma de gotas caídas do céu.

Nem lembro com exatidão quanto tempo faz que escuto Los Hermanos. Só sei que hoje, muitos anos depois, eu não consigo enjoar das músicas. E, depois de ver esse dvd, ainda tenho os olhos inchados de chorar e a pele cansada de arrepiar-se nos meus versos mais bonitos. Sim, meus. Cada pessoa que se identifica (não gosto da palavra fã) acaba querendo tomar pra si as canções. O que é absolutamente plausível, uma vez que, se os nossos sentimentos são cantados pela voz de outra pessoa, podemos atribui-los a nós mesmos tranqüilamente.

Eles me marcaram muito. Quantas madrugadas em claro eu passei, ouvindo aquelas palavras que pareciam se adequar perfeitamente ao que meu coração queria externar? Quantas lágrimas eu derramei, felizes ou tristes, nos shows e na solidão do meu quarto escuro e sonoro? Quantos amigos eu conquistei, por ter os mesmos gostos? Quantos abraços eu dei e recebi ao som daquelas músicas? Quantas pessoas eu fiz apaixonarem-se pelas canções, ganhando companheiros de shows e de análises de letras? Incontáveis. Incontáveis alegrias, incontáveis arrepios, incontáveis situações regidas pelo som deles.

Naquela noite do show, lembro de não ter dormido. Lembro de ter recebido mensagens de amigos que se encontravam lá, lembrando de mim. Mensagens dizendo qual música estava tocando naquele momento, sobre a aura do lugar, sobre a emoção das pessoas. Lembro de ter recebido ligações. É, eu estava lá. Através de um celular, ouvi Último Romance. Lembro de ter que segurar o choro, porque os meus emocionados suspiros atrapalhariam a audição daquele momento absolutamente único. Ali. Ao vivo. No tal show com clima de despedida, que todos torciam para que passasse logo, eu me fiz presente. Mesmo há quilômetros de distância, eu compartilhei as lágrimas emocionadas de milhares de pessoas.

Se eles vão continuar? Não sei. Pra falar a verdade, acho que nem eles sabem. Se tudo acabou de verdade... O que me entristece mais é o fato de saber que não haverá um futuro marcado pelos shows. É saber que eu não vou poder ouvi-los ao vivo com meus futuros amigos de faculdade, é saber que a única lembrança que eu vou ter de Último Romance é a de ter que me abraçar, tendo como única companhia as minhas lágrimas que cismam em escapar durante essa música. Como se quisessem me fazer companhia mesmo. Saindo de dentro de mim, talvez do meu próprio coração, as lágrimas se manifestam como se quisessem dizer que estão lá, comigo. De pensamentos longínguos e de companhias inexistentes foram feitos os shows que eu fui. Se não acabou... Significa que ainda há esperanças. De dividir tantos momentos recheados de emoção com pessoas queridas, com meus abraçadores oficiais que sempre me acompanham nos covers. Com a melhor amiga do mundo, que terá que me acompanhar no próximo tributo a eles. Precisamos disso, passamos por muito. Somos duas pessoas cansadas e devemos a nós mesmas a atitude de alinhar as nossas vozes em uma só, perdida no meio de tantas outras, mas que traz consigo um mundo de sentimentos. Que cumpra-se o “não solta da minha mão”, que haja os abraços demorados e o compartilhamento de lágrimas. Que a nossa sensação de companheirismo, pra dividir e misturar a dor de uma com a emoção da outra, lave nossa alma.


Eles cantam o amor. O amor de um casal que está prestes a morrer, numa Conversa de Botas Batidas. O amor não correspondido, ícone de tantas e tantas letras e o único conhecido por mim. O amor pleno e eterno em Último Romance, que vai ser, com absoluta certeza, a música que vai tocar no meu casamento. (Podem me chamar de brega, eu não ligo. Lasquem-se, é a minha música preferida do mundo inteiro. hahaha) O amor destinado a um alguém desconhecido, a parte mais carente desse sentimento, que se faz demonstrar num pedido de clemência em De Onde Vem a Calma. É de mágica que eles dobram a vida em flor. A flor presente em tantas canções, em tantas vozes. A flor jogada pela platéia que enfeitou a guitarra daquele que usou a flor para metaforizar tantas desilusões, desamores e paixões.



Mas as lembranças ficam. Do gingado do Marcelo em Paquetá, das manias de bêbado, imitações de robô e dos gritos do Amarante em Vencedor, das dancinhas de ambos nos solos de Condicional e Cara Estranho, do gesto do Marcelo de cantar com os braços abertos, da seriedade do Bruno, da concentração do Barba, da maneira séria e quase chorosa com que o Amarante canta Sentimental, dos olhares perdidos do Gabriel Bubu, do público. Do público que canta tudo, de milhares de pessoas tão declaradamente apaixonadas, de braços pra cima, jogando confetes e serpentinas, agindo do mesmo jeito em cada música, como num ritual ensaiado que ninguém verdadeiramente ensaiou. A vontade que dá é a mesma em todo mundo. Um simples “aaaah, ah ah ahhh” no final de Além do Que Se Vê é cantado com tamanha paixão que se assemelha a um poema dos mais rebuscados. É a música que rege, como se os que estão ali tirassem aqueles gritos do mais íntimo de si mesmos. É o grito que sai do coração, grito de mágoa, grito de dor, grito de felicidade, grito de musicalidade. É o pedido da platéia no final do show, entoando um “aah... Los Hermanos vai voltar... Los Hermanos vai voltar... Los Hermanos vai voltar... aaahh...”.






“Além do que se vê” não tem introdução musical. Há apenas a contagem dos compassos antes de surgir a voz de Marcelo Camelo, baixinha: “Moça / olha só o que eu te escrevi / é preciso força pra sonhar e perceber / que a estrada vai além do que se vê”. O barulho do entusiasmo pela entrada da banda no palco ainda não havia se dissipado quando o vocalista caminhou até o microfone e pronunciou a primeira sílaba da música: “Mo...”, sendo engolido por um coral monstruoso de 5 mil jovens que urravam letra por letra com uma vivacidade de torcida uniformizada, antes de explodir em delírio durante o intermezzo instrumental inaudível. Eles explodiram NA PRIMEIRA SÍLABA! (...)
E faz mosh com passinhos de carnaval. E joga serpentina no palco e confete em si mesmo. O processo é obviamente fora do controle da banda – então só restou entregar o manche para o público de vez. E há quatro caras lá no palco, mais olhando do que qualquer outra coisa. Caras magros, frágeis, com uns ternos não muito bem cortados. E o público cuidando deles.
(Trechos da matéria “Boa Noite e Boa Sorte” da revista Bizz, tratando do recesso.)







Diz, quem é maior que o amor? Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora. Vem, vamos além. Vão dizer que a vida é passageira, sem notar que a nossa estrela vai cair.

2 comentários:

Juss disse...

Incluo-me nas pessoas que foram incentivadas por você a escutar os tais barbados. Ainda acho os caras meio mortos, mas enfim... Los Hermanos é legal, vai. Pena se não voltarem. Alegria ouvi-los novamente.
Lindo texto, moça.
Devia mandar pra um blog de fã-clube deles...ia fazer sucesso. ;)

Anônimo disse...

Olha que eu nem conheço as músicas deles direito e fiquei emocionadíssima aqui. Dá até vontade de conhecer mais só por ler palavras tão bonitas, verdadeiras e empolgantes quanto as suas a respeito deles. Concordo com o Juss, deveria mandar pra um blog fã-clube sim. Adorei o texto, baby. Beijo.