
Nessa data, familiar para muitos dos meus amigos, realizou-se aquele que seria o último show do Los Hermanos antes de seu tão comentado “recesso por tempo indeterminado”. Só hoje, mais de dois anos depois, pude ver o dvd resultante daquelas noites e ter a comprovação de que eles marcaram a vida de milhares de pessoas, não só a minha.
Mais de dois anos. Tanta coisa me aconteceu de dois anos pra cá! Naquela época, conturbadíssima pra mim, eu lembro que a notícia do recesso me trouxe lágrimas que saíram assim, naturais. Como se não pudessem ser evitadas, como se fossem absolutamente necessárias. Naquela época, eu ainda estava aprendendo o pouco de violão clássico que sei e foi exatamente a época em que perdi uma tia. Naquela época, eu já tinha o meu vício por fones de ouvido. Gostava de acordar cedíssimo, me arrumar com calma, pegar aquele ônibus e me desligar do mundo através dos fones, que me traziam as duas vozes que mais conseguiam (e conseguem até hoje) me emocionar. Gostava de ouvir antes do colégio, porque me trazia certo alívio para ir a aquele lugar que eu realmente não tolerava. Minhas manhãs

Nem lembro com exatidão quanto tempo faz que escuto Los Hermanos. Só sei que hoje, muitos anos depois, eu não consigo enjoar das músicas. E, depois de ver esse dvd, ainda tenho os olhos inchados de chorar e a pele cansada de arrepiar-se nos meus versos mais bonitos. Sim, meus. Cada pessoa que se identifica (não gosto da palavra fã) acaba querendo tomar pra si as canções. O que é absolutamente plausível, uma vez que, se os nossos sentimentos são cantados pela voz de outra pessoa, podemos atribui-los a nós mesmos tranqüilamente.
Eles me marcaram muito. Quantas madrugadas em claro eu passei, ouvindo aquelas palavras que pareciam se adequar perfeitamente ao que meu coração queria externar? Quantas lágrimas eu derramei, felizes ou tristes, nos shows e na solidão do meu quarto

Naquela noite do show, lembro de não ter dormido. Lembro de ter recebido mensagens de amigos que se encontravam lá, lembrando de mim. Mensagens dizendo qual música estava tocando naquele momento, sobre a aura do lugar, sobre a emoção das pessoas. Lembro de ter recebido ligações. É, eu estava lá. Através de um celular, ouvi Último Romance. Lembro de ter que segurar o choro, porque os meus emocionados suspiros atrapalhariam a audição daquele momento absolutamente único. Ali. Ao vivo. No tal show com clima de despedida, que todos torciam para que passasse logo, eu me fiz presente. Mesmo há quilômetros de distância, eu compartilhei as lágrimas emocionadas de milhares de pessoas.
Se eles vão continuar? Não sei. Pra falar a verdade, acho que nem eles sabem. Se tudo acabou de verdade... O que me entristece mais é o fato de saber que não haverá um futuro marcado pelos shows. É saber que eu não vou poder ouvi-los ao vivo com meus futuros amigos de faculdade, é saber que a única lembrança que eu vou ter de Último Romance é a de ter que me abraçar, tendo como única companhia as minhas lágrimas que cismam em escapar durante essa música. Como se quisessem me fazer companhia mesmo. Saindo de dentro de mim, talvez do meu próprio coração, as lágrimas se manifestam como se quisessem dizer que estão lá, comigo. De pensamentos longínguos e de companhias inexistentes foram feitos os sho


Eles cantam o amor. O amor de um casal que está prestes a morrer, numa Conversa de Botas Batidas. O amor não correspondido, ícone de tantas e tantas letras e o único conhecido por mim. O amor pleno e eterno em Último Romance, que vai ser, com absoluta certeza, a música que vai tocar no meu casamento. (Podem me chamar de brega, eu não ligo. Lasquem-se, é a minha música preferida do mundo inteiro. hahaha) O amor destinado a um alguém desconhecido, a parte mais carente desse sentimento, que se faz demonstrar num pedido de clemência em De Onde Vem a Calma. É de mágica que eles dobram a vida em flor. A flor presente em tantas canções, em tantas vozes. A flor jogada pela platéia que enfeitou a guitarra daquele que usou a flor para metaforizar tantas desilusões, desamores e paixões.
Mas as lembranças ficam. Do gingado do Marcelo em Paquetá, das manias de bêbado, imitações de robô e dos gritos do Amarante em Vencedor, das dancinhas de ambos no


“Além do que se vê” não tem introdução musical. Há apenas a contagem dos compassos antes de surgir a voz de Marcelo Camelo, baixinha: “Moça / olha só o que eu te escrevi / é preciso força pra sonhar e perceber / que a estrada vai além do que se vê”. O barulho do entusiasmo pela entrada da banda no palco ainda não havia se dissipado quando o vocalista caminhou até o microfone e pronunciou a primeira sílaba da música: “Mo...”, sendo engolido por um coral monstruoso de 5 mil jovens que urravam letra por letra com uma vivacidade de torcida uniformizada, antes de explodir em delírio durante o intermezzo instrumental inaudível. Eles explodiram NA PRIMEIRA SÍLABA! (...)
E faz mosh com passinhos de carnaval. E joga serpentina no palco e confete em si mesmo. O processo é obviamente fora do controle da banda – então só restou entregar o manche para o público de vez. E há quatro caras lá no palco, mais olhando do que qualquer outra coisa. Caras magros, frágeis, com uns ternos não muito bem cortados. E o público cuidando deles.
(Trechos da matéria “Boa Noite e Boa Sorte” da revista Bizz, tratando do recesso.)
E faz mosh com passinhos de carnaval. E joga serpentina no palco e confete em si mesmo. O processo é obviamente fora do controle da banda – então só restou entregar o manche para o público de vez. E há quatro caras lá no palco, mais olhando do que qualquer outra coisa. Caras magros, frágeis, com uns ternos não muito bem cortados. E o público cuidando deles.
(Trechos da matéria “Boa Noite e Boa Sorte” da revista Bizz, tratando do recesso.)

Diz, quem é maior que o amor? Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora. Vem, vamos além. Vão dizer que a vida é passageira, sem notar que a nossa estrela vai cair.
2 comentários:
Incluo-me nas pessoas que foram incentivadas por você a escutar os tais barbados. Ainda acho os caras meio mortos, mas enfim... Los Hermanos é legal, vai. Pena se não voltarem. Alegria ouvi-los novamente.
Lindo texto, moça.
Devia mandar pra um blog de fã-clube deles...ia fazer sucesso. ;)
Olha que eu nem conheço as músicas deles direito e fiquei emocionadíssima aqui. Dá até vontade de conhecer mais só por ler palavras tão bonitas, verdadeiras e empolgantes quanto as suas a respeito deles. Concordo com o Juss, deveria mandar pra um blog fã-clube sim. Adorei o texto, baby. Beijo.
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