quarta-feira, 15 de julho de 2009

(re)começo?

Quando você chegar, que seja sem permissão, sem anúncios, sem diálogos, sem entrada principal. Entre pelos fundos, pela chaminé, pule o muro, pela porta lateral, pela janela, sem que eu perceba, apenas entre. Inesperadamente. Assim, surpreendentemente. E que seja pra ficar. Não me traga flores nem bombons, embora eu goste muito, porque seria clichê demais. Traga-me um cartão feito a mão, com algumas mentiras bonitas e bobas pra eu acreditar, mas mentiras que tenham a decência de uma mínima verdade. Conte-me histórias, suas histórias, e me deixe te conhecer. Quando você chegar, amor, eu espero que o amor não seja mais assim tão fácil. Tão rápido e tão hipócrita. Egoísta e exigente. E que você me presenteie a cada dia com certezas, sem receitas prontas, rotina e monotonia. E eu correrei até o fim do mundo para não ver o mundo acabar e ficar mais alguns minutos com você nos seus braços. Então segure forte a minha mão e prometa-me que não vai soltá-la nunca, tá?

Não seja tão previsível quanto todos. Não gosto de alma com leitura fácil, não gosto de praticidade e atitudes esperadas e prováveis. Gosto da descoberta, gosto de bisbilhotar, gosto de me embasbacar. Surpreenda-me, amor. Que a sua chegada faça meu coração pular de alegria. Faça-me perder a respiração ao te ver passar, suar as mãos quando as tuas encontrarem, sentir o vermelho das bochechas chegar, ver a alma se perder pelos caminhos que me levam a você. Faça-me ter paixão. Sentimentos puros. Quero sentir. Preciso dessa sensação. Traga-me o abandono. O abandono das mentiras, da dor, dos desencantos, das lágrimas, do adeus ao “para sempre”. Traga-me a palavra que faltava para a canção do amor próprio que há muito eu compus.

Exija de mim a minha melhor parte, amor. Aquela que ninguém jamais viu. A parte que foi reservada especialmente para sua chegada. Está aqui intocada e pronta para surgir. Comande a minha alegria, o meu sorriso, os meus olhos. Seja meu. Queira a minha leveza e a minha paz de espírito. Receba também os meus defeitos, amor, pois não sou perfeita. Queira o meu lado direito não fotogênico e cheio de manchas. Goste dele. Queira meu sorriso não alinhado, porém encantador. Queira as palavras escritas pelas minhas suaves mãos. Aceite a minha preguiça aos domingos, a minha gula por chocolate, a minha falta de tempo e de humor fixo. Quando você chegar, a lua vai sorrir tão mais bonita. Quando você chegar, o sol já vai ter iluminado nosso dia. E quando isso acontecer, amor, permita-me te amar. Permita-me te abraçar, te envolver e te encantar. Deixe-me ser parte de você.

Quando você encontrar a porta, amor, não bata. Quem sabe ela já se encontre aberta.




P.S.: Não, esse texto não é meu. Tomei a liberdade de postar essas palavras aqui, já que todos hão de convir que são lindíssimas e que combinam absurdamente comigo. Quem escreveu? Drummond? Que nada, a escritora é alguém de quem eu morro de saudades de dividir uma pipoca. Sempre guardo as mais salgadas pra ela, tanto que os pedidos nem são mais necessários, já sei do que ela gosta. Ela me lê com uma facilidade imensa. Talvez com mais facilidade que todos os outros. E eu me vejo em tantos escritos dela que é impossível não pensar que haja alguma força osmótica que compartilhe sensações entre duas amigas que, de tão amigas, se julgam irmãs. :]

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu só espero que as portas abertas saibam quando devem permanecer abertas. O amor às vezes quer entrar na casa, mas a porta quis ir ao banheiro e fechou a porta da casa por alguns instantes. Daí o amor vai embora por não poder esperar que a porta se abra outra vez.

Paola disse...

"E eu correrei até o fim do mundo para não ver o mundo acabar e ficar mais alguns minutos com você nos seus braços"

Palmas, Lidiane. Lindo! *-*